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Comando Vermelho é investigado por tráfico e homicídio em Portugal

Facção brasileira teria ligação com traficante condenado a 20 anos e suspeita de ordenar morte de jovem perto de Lisboa.


Rúben Oliveira, o Xuxas
Rúben Oliveira, o Xuxas

Um assassinato numa cidade litorânea portuguesa e o comando de uma rede internacional de tráfico de drogas — com a condenação, a 20 anos de prisão, do homem acusado de chefiá-la — tem um ponto em comum: o Comando Vermelho. Investigada pela Secretaria de Segurança Pública do Rio por expandir suas atividades para os Estados Unidos, como o EXTRA mostrou com exclusividade ontem, a facção carioca também teria atravessado o Atlântico e feito conexões com criminosos em Portugal.


Apontado como um dos maiores traficantes de drogas de Portugal, Rúben Oliveira, conhecido como Xuxas, foi condenado em 23 de novembro do ano passado a 20 anos de prisão por tráfico de drogas, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Xuxas está preso desde 2022 na penitenciária de Monsanto, que tem o nível de segurança mais elevado do país, e, segundo o Ministério Público português, é ligado a grupos de narcotráfico do Brasil e da Colômbia — um deles, o Comando Vermelho.


A droga entrava em Portugal em malas e também através de contêineres de empresas importadoras de frutas, o que batizou a operação da Polícia Judiciária portuguesa que desmantelou a quadrilha: Exotic Fruit, ou fruta exótica, na tradução do inglês. No processo, conduzido pelo Juízo Central Criminal de Lisboa, também foi condenado o irmão de Xuxas, Dércio Oliveira. Ao todo, 19 réus foram julgados no caso, e 14 acabaram sendo condenados.


O CV estaria por trás da execução de Thúlio Fernando Santos Silva, de 20 anos, de acordo com reportagem do jornal português “Correio da Manhã”. O corpo do brasileiro, que havia emigrado para Portugal, foi encontrado carbonizado num caixote de lixo na Praia da Ponta dos Corvos, no Seixal, próximo a Lisboa, no último dia 29. Segundo o “Correio da Manhã”, a Polícia Judiciária suspeita que Thúlio tenha sido assassinado por cinco homens, enviados a mando do Comando Vermelho.


Fernandinho Beira-Mar
Fernandinho Beira-Mar

Beira-Mar e seu sócio


Se a atuação do Comando Vermelho nos Estados Unidos ainda é alvo de investigação pela Secretaria estadual de Segurança Pública (Sesp), desde o início dos anos 2000 é conhecida a atuação de dois brasileiros atacadistas do tráfico internacional de drogas:


Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e seu sócio, Leonardo Dias de Mendonça. Ambos estão na lista do OFAC (Office of Foreign Assets Control, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros). O órgão, subordinado ao Departamento do Tesouro americano, é responsável por aplicar sanções econômicas e comerciais contra narcotraficantes e terroristas.


Veja como foi o caminho da negociação
Veja como foi o caminho da negociação

Beira-Mar e Mendonça são classificados pelo OFAC como kingpins (chefões) e enquadrados no Kingpin Act, uma lei americana de 1999 usada para bloquear, a criminosos e cartéis estrangeiros, acesso ao sistema financeiro dos EUA e a negociações com empresas americanas. Beira-Mar entrou para a lista do OFAC em maio de 2002; Mendonça, menos de um ano depois, em fevereiro de 2003.


Na mesma lista do Kingpin Act em que Beira-Mar foi enquadrado estavam traficantes como o mexicano Ismael Zambada Garcia, o El Mayo, um dos herdeiros do Cartel de Sinaloa, uma das maiores organizações criminosas do mundo, preso em julho do ano passado na cidade americana de El Paso, no Texas.


Negociação


A Secretaria estadual de Segurança Pública está negociando com o governo dos Estados Unidos um acordo para que o Comando Vermelho (CV) seja reconhecido como uma organização criminosa internacional. Isso permitirá a cooperação entre os dois países para o combate em território americano à maior facção do tráfico do Rio.


Documentos obtidos com exclusividade pelo EXTRA mostram que um dos órgãos do governo dos EUA já envolvidos na negociação é o Serviço de Segurança Diplomática (DSS, na sigla em inglês). Subordinado ao Departamento de Estado americano, ele tem entre suas atribuições o combate ao crime fora das fronteiras dos Estados Unidos.


A cooperação, que vem sendo costurada entre o governo do estado e o Consulado americano no Rio desde junho do ano passado, é baseada em indícios de que o CV está recrutando comparsas dentro dos EUA, e em informações de inteligência mostrando que traficantes do Comando Vermelho se uniram a criminosos de cartéis da América do Sul e estão levando drogas para os Estados Unidos.


Reconhecer o CV como uma Organização Criminosa Transnacional (TCO, na sigla em inglês) permitirá que outras agências do governo americano também combatam a facção, como a Drug Enforcement Administration (DEA) e a Agência de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF).

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