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Novo Presidente Enfrenta Desafios de Inflação e Equilíbrio Fiscal

Candidatos têm visões distintas para pontos como déficit orçamentário e disputa comercial com a China, mas solidez da economia protege investidor


Desafios do novo presidente incluem inflação e equilíbrio fiscal — Foto: Getty Images


A sólida economia americana receberá o próximo presidente com pelo menos dois grandes desafios: o de obter equilíbrio fiscal (o déficit orçamentário atingiu 6, 4% do PIB em 2024, superior aos 6,2% de 2023) e o de conter a pressão inflacionária.


O resultado das eleições presidenciais que acontecem amanhã afetará um e outro indicador de forma distinta. Os cenários traçados pelo economista Paulo Gala, professor da Fundação Getulio Vargas, diferem em três aspectos básicos. “Se Trump ganhar, esperam-se mais inflação, mais tarifa de importação, juros mais altos e dólar mais forte. No caso de Kamala Harris, é esperado o contrário”, diz.


As incertezas causadas pela eleição do maior “CEO” do planeta aumentam a volatilidade dos mercados, exigindo atenção apurada nas decisões de investimento, já que as agendas econômicas e políticas dos candidatos diferem em múltiplos aspectos.


Indefinições à parte, um ponto merece consenso de especialistas. Independentemente do resultado, o desempenho econômico continuará positivo. “Os indicadores têm mantido boa performance nos últimos anos, de forma surpreendente. Mesmo com o aperto monetário de 2022 e 2023, a economia manteve ritmo satisfatório, com desemprego baixo e perspectiva de crescimento acima de 2,5% do PIB este ano, ainda que com alguma expectativa de redução na margem”, afirma Silvio Campos Neto, sócio da Tendências e especializado em economia internacional.


A análise tem como base números divulgados recentemente, que vieram mais fortes que o esperado depois da queda de 0,5 ponto percentual nos juros americanos em setembro, motivada pela retração no mercado de trabalho. Os novos indicadores, ao contrário, mostraram criação de 254 mil vagas em setembro, acima das expectativas; queda da taxa de desemprego, de 4,2% em agosto para 4,1% em setembro; e alta de 0,4% nas vendas no varejo em setembro em relação a agosto. Juntos, os dados indicam dinamismo, o que, segungundo Campos Neto, deve levar o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, a ser mais cauteloso na redução dos juros.


Desafios


André Diniz, economista da Kinea, gestora de fundos de investimentos com R$ 132 bilhões em carteira, enfatiza que o resultado do pleito tende a impactar o comportamento dos juros. “No cenário de vitória de Trump, com o controle do Congresso, caso ele consiga cortar impostos para as empresas e alterar tarifas comerciais, a atividade econômica americana se fortaleceria, mas a inflação aumentaria. Com isso, a curva de juros dos EUA provavelmente subiria, com impacto sobre o valor global do dólar e sobre o prêmio de risco fiscal que o restante do mundo ter


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A política de imigração é outra diferença expressiva na visão dos dois candidatos. O republicano é contrário à abertura das fronteiras do país; Kamala Harris é favorável. “Hoje, dos 180 milhões de pessoas que trabalham nos Estados Unidos, 30 milhões nasceram fora, o que mostra a importância dos imigrantes para a economia americana, mas são eles os que ganham menos. Uma vitória republicana pode ser inflacionária pela via do aumento de salário por causa da restrição à imigração”, diz Gala.


Outra diferença relevante está no nível do protecionismo, acirrado pelo temor da expansão chinesa. Nesse caso, o que difere um candidato do outro é a dimensão das políticas a serem adotadas. “Kamala Harris é 100% aumento de tarifa, Trump é 200%. Se Trump ganhar, vai escalar a guerra comercial e tecnológica com a China, com mais tarifas”, diz Gala. A consequência imediata será inflação mais alta, decorrente do aumento dos custos de produção e de importação e, logo, perspectiva de juros mais pressionados. “O dólar se fortalece por causa do maior protecionismo, que gera mais inflação, levando o Fed a segurar os juros”, conclui.


Com relação aos juros, por sinal, o ciclo de corte, iniciado pelo Fed em setembro e que hoje oscila dentro de uma banda de 4,75% a 5% anuais, terá desempenhos diferentes, de acordo com os economistas. “Uma vitória de Trump poderá levar a um ciclo mais curto, o Fed pode ser obrigado a parar em 4%. Se Kamala Harris vencer, poderá ser mais longo, e talvez os juros venham a 3%”, diz o professor da FGV.


Evolução do cresciemnto do PIB americano — Foto: Arte/ Glab

Cenários


Com base nessas perspectivas, o investidor brasileiro deve esperar pelo dólar mais forte, no caso de vitória republicana, real desvalorizado e cenário para a bolsa menos favorável no Brasil. Se a democrata vencer, um real fortalecido, juros de longo prazo cedendo e mais espaço para recuperação da bolsa. Em ambos os casos, volatilidades à parte, alocar recursos em renda fixa e variável nos EUA permanece opção atrativa, segundo os economistas.


“Seja qual for o resultado das eleições, investir no mercado americano continuará valendo a pena. É o maior mercado financeiro do mundo. Tem opções boas, embora esteja muito caro. Estamos na máxima histórica de todas as bolsas americanas. Em relação aos títulos privados, a dívida corporativa é de excelente qualidade. É um bom momento para renda fixa, mas é preciso fazer uma garimpagem, tanto em ações quanto em títulos”, diz Gala.


André Diniz compartilha da opinião. “O mercado americano é resiliente a ciclos econômicos. O comportamento do consumidor e das empresas americanas parece muito mais sólido do que o de pares europeus e chineses”, diz. Segundo ele, em 2007, as famílias americanas gastavam 13% da renda pagando dívida. Hoje, gastam 10%, diferença destinada a consumo ou poupança. Já os lucros das empresas americanas giravam em torno de 10% do PIB dos EUA na década de 2000. Hoje representam 12% do PIB, acima da média histórica.


A avaliação encontra respaldo no aumento dos investimentos de brasileiros no exterior. “O movimento está alto. Há uma procura muito grande por ativos financeiros no exterior”, diz Rafael Panonko, consultor de investimentos independente, especialista em bolsa de valores. Um dos setores que se beneficiarão se Trump ganhar, segundo ele, será o petroleiro. “No caso de vitória de Kamala Harris, será o de energia renovável”, diz. Com relação à política protecionista a ser adotada pelo próximo governo, o aumento das restrições comerciais poderá reduzir o ímpeto do índice S&P, das 500 maiores empresas dos EUA.



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